Uma das atividades mais conhecidas no nordeste brasileiro é a das "rendeiras". Não tão rentável, porém tradicional pertencente a cultura local. Passando como tradição de mãe para filha, esta atividade tem colaborado como complemento de renda para muitas famílias nordestinas.
Como vocês, ainda não consigo compreender, a falta de investimentos maiores no nordeste brasileiro e em um povo rico em cultura e fé. Com possibilidades infinitas de crescimento econômico, o povo nordestino vem durante décadas seguidas enriquecendo economicamente e culturalmente vários estados brasileiros, porém o seu próprio estado não!
Isso se deve a ausência de infra-estrutura para a sua própria subsistência em sua região.
Os investimentos do Governo Federal, ainda tímidos, não foram capazes de reverter o êxodo deste povo tão sofrido. Esperamos que o nosso Governo continue investindo cada vez mais nesta região para que um dia o retorno deste povo para a sua terra natal venha a acontecer. Temos a certeza de que com investimentos, esta região tão árida, se transformaria numa "fonte de água viva" a impulsionar o Brasil cada vez mais economica e socialmente para a sua ascensão.
Por enquanto, fiquem com esta pequena contribuição abaixo:
"A atividade rendeira pode ser considerada um processo e pressupões várias tarefas, sendo a primeira delas a confecção da almofada, em tecido, recheada com folhas de mangueira ou abacateiro.
Fazer os 'bilros' - pequenos fusos em que a linha é enrolada e que servem de guias de separação das malhas - é a única etapa de domínio masculino nesse processo. Colhe-se a madeira bruta, para cortá-la em pequenos pedaços, depois lavrados com faca caseira até a forma final.
Etapa de alta relevância é a confecção do moldes, que são guias indicativos dos desenhos e dos formatos.
O molde também é chamado de papelão, pois consiste exatamente na superposição de várias camadas de papel, em geral de saco de cimento, entremeadas com goma de mandioca, a que as rendeiras se referem como angu. O segredo dessa etapa está no cuidado de alisar com perfeição cada folha para evitar qualquer ruga que atrapalharia o desenho. Cada papelão tem cerca de seis ou sete camadas de papel, o que a sabedoria e a prática determinam como ideal para uso. Assim preparado, é posto para secar ao sol durante aproximadamente 14 horas. A maior parte deles é herdada de parentes, recebida como relíquia, embora quase sempre já desgastada de tanto ser 'pinicada' (furada).
Assentada a almofada, o molde é nela fixado com alfinetes ou espinhos de cactos que formam o caminho por onde passará a linha de bilros, manipulados com destreza e agilidade pela rendeira, que trabalha sentada, quase sempre no chão.
Esticado na grade o tecido já desfiado, começa o trabalho com os fios: alguns serão separados para encher, ou seja, bordar propriamente, com linha Corrente Laranja; outros serão costurados com tipo diferente de linha, a Esterlina, juntando três, quatro ou mais, de acordo com o padrão que se deseje, o que elas denominam torcer.
Isso pronto, o que pode demorar vários dias, bem como ser feito por mais de uma labirinteira ao mesmo tempo, resta perfilar a peça, dar-lhe acabamento, lavar e engomar, para então retirá-la da grade e recortar as bordas.
As aprendizes, filhas, sobrinhas, netas e afilhadas, começam a desenvolver sua habilidade nessa arte por etapas, que vem a ser exatamente as mesmas do processo de confecção da renda: desfiar o tecido - linho ou algodão rústico -, formando a nova trama a ser trabalhada; esticar na grade, uma espécie de bastidor quadrangular, de que cada rendeira tem um estoque, pois seu tamanho depende da peça a ser feita.
O Projeto Renda Minha - do Programa Artesanato Solidário o Conselho da Comunidade Solidária - iniciou suas atividades em Alcaçuz e Campo de Santana, comunidades do Município Nísia Floresta, em outubro de 1999, procrando fortalecer o associativiso, catalogando padrões e pesquisando novos produtos, valorizando técnica, a qualidade e o orgulho das mulheres rendeiras, buscando capacitá-las para a reconquista do mercado consumidor e para garantir a autogestão da produção.
Apesar das atividades turísticas em expansão, apenas uma uma mínima parcela da população de 16.000 habitantes se beneficia com a obtenção de emprego no setor, vivendo a maior parte da pesca de subsistência, agricultura, venda de produtos caseiros e artesanatos feito em renda de bilros, labirinto e cestaria. A falta de alternativas econômicas na região acarreta o êxodo, principalmente de jovens e homens, para as principais capitais do Nordeste em busca de trabalho."
Texto retirado e adaptado do site http://www.acasa.org.br/arquivo_objeto.php?reg_mv=OB-00548