Torneira seca, mas carne no prato a qualque custo. A luta pela água.
PESQUISA FAPESP(Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo)
Agosto 2008
Os Emirados Árabes Unidos criaram uma entidade científica destinada a enfrentar a escassez de água no país, que pode aumentar em decorrência das mudanças climáticas. A Academia Árabe da Água vai receber US$ 1 milhão do governo de Abu Dhabi, emirado que sediará a iniciativa, US$ 300 mil do Banco Mundial e outros US$ 200 mil do Banco de Desenvolvimento Islâmico. Segundo o jornal GulfNews, a academia buscará desenvolver tecnologias de tratamento e dessalinização da água e a exploração de reservas subterrâneas. A entidade vai oferecer bolsas de pós-graduação em universidades da região e organizar programas de treinamento para cientistas, ambientalistas e técnicos. Também irá criar um banco de dados com as pesquisas de recursos hídricos e lançar uma revista científica para disseminação do conhecimento gerado.
Consumo Sustentável
Instituto Biosfera
” (… )Racionalização do consumo da água também deve ser prioridade. As campanhas publicitárias são tímidas, pouco frequentes e praticamente não geram impacto na população. Nesse sentido, a inclusão da disciplina de educação ambiental no currículo básico da escola fundamental é urgente e necessária, para fomentar cidadãos mais preocupados e informados acerca da situação de calamidade que vivemos no que diz respeito ao alto consumo de água, que não é ligada apenas a questão de seu uso direto de maneira racional, mas ao consumo de maneira geral.
“São necessários até 30.000L (trinta mil litros) de água para produzir 1kg (um quilo) de carne, mas apenas 150 (cento e cinquenta) litros de água para 1kg (um quilo) de trigo”
É esse um dos pontos mais importantes a serem abordados.
Poucos se dão conta, mas a fabricação de qualquer produto e o cultivo de qualquer alimento geram “custo hídrico”, ou seja, há consumo de água no processo. O consumo exagerado de alimentos aliado a expansão demográfica, exercem uma pressão social e econômica crescente para a ampliação das áreas voltadas para sua produção. Por isso, cresce em todo o mundo a irrigação, cuja difusão é acompanhada pela requisição de vastos volumes de água. Paralelamente, se alastram os desmatamentos, em larga medida afetando regiões arborizadas e abrindo espaço para o surgimento de campos artificiais voltados para a produção de carne, especialmente da bovina. Se o governo incentivasse o cultivo e o consumo de produtos cujo custo hídrico fosse menor, os impactos seriam minimizados. Ao contrário, vemos surgir cada vez mais alternativas bem intencionadas como a produção de álcool e biodiesel em larga escala, cujos estudos não são conclusivos acerca do benefício que a questão traria, eis que se estaria deixando de poluir a atmosfera em detrimento do consumo de água. O governo, por outro lado, temeroso por atuações impopulares, lança campanhas de desconto no valor da conta mensal de consumo de água para os que conseguem diminuir sua média de consumo, mas assim que a seca acaba e a água volta a jorrar essas campanhas são canceladas. A população entende que está tudo bem e volta a limpar a calçada com água de mangueira no dia seguinte.
Medidas impopulares, infelizmente, precisam ser tomadas para que questões absolutamente vitais ligadas ao consumo desenfreado de produtos e alimentos comecem a ser resolvidas. Uma delas, praticamente desconhecida da sociedade, é a questão do consumo da carne, sobretudo no Brasil. Dados da TAPS - Temas Atuais na Promoção da Saúde - mostram que a indústria de carne é uma das maiores responsáveis pela poluição da água. Somente os animais criados para o consumo humano nos Estados Unidos produziriam uma quantidade de excrementos 130 vezes maior do que a de toda a população mundial: 39.000kg por segundo. Cerca de 80% das áreas cultiváveis são usadas para a criação de animais.
“(…) a produção de um único hambúrguer consome uma quantidade de água suficiente para 17 (dezessete) banhos de chuveiro e a criação desses animais de corte seria responsável por 90% (noventa por cento) do desmatamento das florestas tropicais. É um custo muito alto a ser pago pelo consumo de um alimento que pode ser substituído por outros alimentos (…).”
Em um hectare de terra podem ser plantados 22.500kg (vinte e dois mil e quinhentos quilos) de batatas, mas, na mesma área, só podem ser produzidos 185kg (cento e oitenta e cinco quilos) de carne bovina.
A pecuária, alardeada como a menina dos olhos da exportação brasileira, é uma das produções maiores consumidoras de água. São necessários até 30.000L (trinta mil litros) de água para produzir 1kg (um quilo) de carne, mas apenas 150 (cento e cinquenta) litros de água para 1kg (um quilo) de trigo. Ainda segundo a TAPS, a produção de um único hambúrguer consome uma quantidade de água suficiente para 17 (dezessete) banhos de chuveiro e a criação desses animais de corte seria responsável por 90% (noventa por cento) do desmatamento das florestas tropicais. É um custo muito alto a ser pago pelo consumo de um alimento que pode ser substituído por outros alimentos. Não se trata de abolir seu consumo, mas é fato que faz parte da cultura brasileira consumi-lo em grandes quantidades e campanhas como a do SIC – Serviço de Informação da Carne - estimulam ainda mais seu consumo. O governo deve liderar o alerta a população não só sobre os malefícios de consumir carne em excesso, mas também do custo ambiental dessa prática. Isso deve ser feito o quanto antes, já que o consumo de carne no Brasil bate recordes a cada ano (…)”.