Gabriel Luna, do colégio Porto Seguro, em São Paulo, se prepara para levar seu notebook azul para casa. É uma das primeiras experiências do tipo no Brasil
O computador da família do estudante Gabriel Faleiros Luna, de 10 anos, fica no quarto do garoto. Mas ele diz que ainda não ganhou intimidade com a máquina. O aluno da 4a série do ensino fundamental do Colégio Visconde de Porto Seguro, uma escola particular de São Paulo, afirma que não gasta mais que 15 minutos por dia conectado. Só o suficiente para ler os e-mails trocados com o avô e o pai.
Seus assuntos preferidos são carros e vídeos engraçados. E pesquisa para a escola na internet? Sim, Gabriel diz que faz um pouco. Na mais recente, descobriu que o navegador português Fernão de Magalhães foi o primeiro a dar a volta ao mundo. Mas Gabriel diz que prefere desenhar no papel e jogar no videogame Wii a usar o computador de casa. Segundo ele, a máquina lhe dá um pouco de medo. "O computador fica no meu quarto, mas é da minha mãe", afirma. "Tenho medo de apagar algum arquivo importante dela. Também é difícil de mexer porque os comandos estão em inglês."
Todo esse receio em relação ao computador sumiu há duas semanas, quando Gabriel entrou em contato, pela primeira vez, com um dos novos notebooks infantis que estão chegando a seu colégio. A máquina é um dos modelos de notebooks simples e baratos inspirados no projeto mundial Um Laptop por Criança (OLPC, na sigla em inglês).
Gabriel será uma das primeiras crianças brasileiras a receber um notebook só para si, para fazer o que quiser com ele. Seu colégio foi escolhido para testar o computador pelo grupo educacional Positivo, fabricante de um dos modelos existentes no Brasil. Cerca de 900 máquinas equivalentes já estão sendo experimentadas em escolas públicas s e privadas. Mas ainda não saíram da escola. Só agora um
grupo de alunos brasileiros terá a experiência de ficar o tempo todo com o computador.
A partir de setembro, a turma de Gabriel vai receber 36 máquinas. As crianças poderão levá-las - com baterias que duram até quatro horas e
conexão de internet sem fio - para o curso de inglês, para o clube ou para a casa dos amigos. Ficarão com elas nos fins de semana e
feriados. Poderão levar trabalhos, fotos, textos, desenhos e músicas de um lugar para outro na memória da máquina.
840 LAPTOPS INFANTIS
Estão sendo testados em escolas municipais e estaduais do país. Se der certo, o governo pretende licitar 150 mil máquinas neste ano Isso não é apenas "legal, muito legal". É uma iniciativa capaz de mudar de forma radical a educação das crianças brasileiras. Pesquisas
mostram que, com um computador próprio, elas passam a ter mais autonomia para aprender, mais estímulo para estudar e maior capacidade de administrar o volume extraordinário de informações do mundo de hoje. Praticamente no mundo inteiro, autoridades educacionais estão discutindo a adoção do notebook feito para crianças.
O projeto foi inicialmente pensado para combater a exclusão digital. Por isso, começou a ser testado em países em desenvolvimento (Argentina, Uruguai, Nigéria, Paquistão, Tailândia, Índia e México).
Mas chamou a atenção dos governos do Canadá e dos Estados Unidos. Dezenove Estados americanos vêm pressionando a OLPC para rever sua posição de não vender o produto nos países ricos. Com 2,5 milhões de pedidos, a OLPC decidiu no mês passado iniciar a produção em massa de seu modelo de notebook, o XO. A Intel, que também entrou nesse mercado, afirmou que planeja investir US$ 1 bilhão nos próximos cinco anos.
Esse interesse todo tem um motivo: as primeiras experiências têm dado resultados animadores. O Estado americano de Michigan fez um
levantamento com 22 mil alunos que tiveram acesso a laptops 24 horas por dia. Em um ano, a proporção de estudantes com proficiência em leitura subiu de 29% para 41%.
O porcentual de alunos aprovados em matemática dobrou, de 31% para 63%. Os laptops incentivaram principalmente os alunos mais fracos. A proporção de alunos com notas finais D e E (as mais baixas) caiu de 29% para 2%. As suspensões caíram 5% e as faltas 20%. Em um estudo equivalente, realizado no Estado do Maine, 54% dos estudantes informaram que suas notas melhoraram. Os professores também observaram que a evasão diminuiu.
Outro levantamento, feito no Estado canadense de British Columbia, concluiu que o principal ganho foi na habilidade de escrita dos
alunos, que elevou em 30% a aprovação dos estudantes nas provas municipais. Apesar de eles terem se distraído mais durante as aulas usando programas de mensagens instantâneas e e-mail, mostraram maior interesse nos temas das aulas e dedicaram mais tempo aos estudos.
Fonte: Portal Ensinando